17/12/2009

Balada da Neve


Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim.

È talvez a ventania:
Mas há pouco, há poucochinho
Nem uma agulha bulia,
Na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho

Quem bate assim, levemente,
Com tão estranha leveza,
Que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva nem é gente,
Nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria....
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
duns pezinhos de criança....

E descalcinhos, doridos...
A neve deixa inda vê-los,
primeiro bem definidos,
depois em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los.

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor
porque lhes dais tanta dor?
Porque padecem assim?

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração....

Augusto Gil

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