"Velho sente saudade de mãe e de pai. Tudo faz tanto tempo! Velho
quer colo, quer colher na boca vindo de longe com motor de aviãozinho, quer
- banho tomado - que o ponham na cama, o aconcheguem com lençol limpo e
travesseiro macio. Uma história conhecida, uma cantiga de ninar, um beijo de
boa-noite. A porta do quarto um pouquinho aberta, com a luz do corredor acesa -
o ponto de referência é sempre bom. Velho sente falta de instância superior.
Quem o julgará com isenção e sabedoria? Quem, melhor que ele, saberá,
imparcial, examinar o mérito da questão? Velho é criança de fôlego diferente.
Já não lhe interessam as correrias nos jardins, o sobe e desce das gangorras, o
vaivém dos balanços. É tudo muito pouco. O que ele quer agora é desembestar no
céu, soltar os bichos que colecionou a vida inteira."
Sem comentários:
Enviar um comentário